Anteontem, quinta, saí de São Paulo com o tempo mudando; uma cálida manhã passou a uma tarde fria e úmida; ao chegar em Espírito Santo do Dourado a temperatura estava ainda mais baixa! Já sei que sempre se conta menos quatro graus que São Paulo, mas desta vez o contraste passou dos dez. Ao chegar em PA, como de costume, fui até o estacionamento da rodoviária, por volta das vinte e duas horas, e lá encontro Vania com o Rabicho, o único dos cães que se atreve a entrar no carro. Na verdade, ele sente grande prazer nisso! Já conhece todas as palmeiras, postes, lixeiras e alambrados disponíveis para uma mijadinha de demarcação de seu território. V. fica ali, pacienciosamente esperando que ele entre no carro (eu idem), para que voltemos todos para casa. Mas o cãozinho tem todo um ritual que inclui ir e vir, girar sobre os calcanhares e erguer uma perna na ida e depois a outra na volta. Uma gotícula de líquido molha um capim mais saliente, depois uma casca rústica de uma árvore.
Como o Rabicho é dirigido principalmente pelo nariz, ao chegar perto do carro o chamo e ele vai na direção das mais diversas pessoas, olhando atentamente no rosto, pra identificar o amigo que tanto adora. Às vezes quase me ofendo com sua incapacidade para me identificar de longe! Não raro, com aquela carinha boba, aquele nariz preto e fino, fica olhando uma mulher tentando ver se não sou eu. Nem mesmo meu sexo ele sabe! Me justifico, já que com ele este argumento seria inútil, que os seres humanos mudam tanto de uma hora para outra, usando roupa, óculos, penduricalhos nas orelhas, cobertura na cabeça, que só resta-lhe confiar em algum traço do nariz, um naco da boca, uns fios de barba e cabelo, um jeito de andar, para se convencer de que conhece quem lhe chama. Então o perdôo por quase nunca saber quem sou eu no meio de outras pessoas. Quando ele se convence de que eu sou eu mesmo, aí é uma festa! Abana o rabo... não, chicoteia o rabo com tal vigor que o corpo todo é usado nesse movimento! Depois se distrai mais um pouco com os postes e flores.
Me esqueci do tempo! Enfim, acho que falava do tempo porque neste momento chove forte e é algo que jamais aconteceu em julho desde que aqui chegamos, quinze anos atrás. É aconchegante, mas um pouco estranho. V. também acha, mas não perdeu tempo e plantou alguns caroços, já brotados, de abacate, nos limites da propriedade, mais precisamente nas terras do vizinho sul, que, aconselhado por nós, deixou uma pequena reserva à volta de suas nascentes. É justamente nesta reserva que V. colocou as sementes em berço esplêndido “para tratar dos bichos que são tímidos demais para virem comer perto de casa!” A chuva aguou o suficiente para os próximos dez dias... (Na foto, a esquerda, nosso heroizinho preto com Vania fazendo suas inspeções diárias no corpinho de Gabi; atrás, partes do Soneca Golden Boss)
Nenhum comentário:
Postar um comentário