domingo, 27 de junho de 2010
As vinhas da ira do frio e do calor!
Há quarenta dias a temperatura fica abaixo dos doze graus à noite e até 27 durante o dia, um verdadeiro choque térmico esperado com ansiedade para forçar as uvas no seu melhor caldo. Para ser perfeito, pelo menos para as condições locais, isso deverá se esticar por mais quarenta. Olho com atenção para as ramas secas das uvas; vejo-as perdendo folhas a cada dia, ao ponto de hoje restar apenas meia dúzia delas em cada videira. Digamos que este sofrimento, que as faz adormecer para não morrer e lançar abaixo todo lastro que poderia cobrar-lhes vida, é parte de um ciclo vitorioso; sempre que isso se dá de modo harmonioso, temos bons frutos na primavera. É disso que trata o morador no campo - de ciclos, ritmo, espera, paciência, surpresas boas e ruins e principalmente da visão de conjunto. Trata-se de cálculo, não matemático, no máximo aritmético, das probabilidades do clima e força bruta resultarem em um chão que verte frutos. Nada se compara na vida citadina com essa entrega do homem de pequena propriedade rural aos mandos e desmandos do ar, da chuva, dos vapores matinais e serenos noturnos. Nada se aproxima desta humildade de olhar para o firmamento e tentar ler as mensagens cifradas das nuvens, da auréola lunar, da cor do sol poente, sabendo que se está a mercê do humor das estações.
Por isso, eu que já me habituei com certa instabilidade no semblante da natureza, estou aqui de olho nas manhãs, rezando para que as ninfas e sei lá quem mais, nos deem mais algumas noites frias com dias ensolarados. Tudo isso para que possa ter a agradável experiência de colher, deliciado, redondas uvas coloridas, dispostas em cachos, que "despinicarei", como dizem os mineiros, uma a uma, saboreando devagar, porque tudo que é bom na vida campesina, dura uma estação - no máximo.
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