Há boas razões para que eu invista em minha horta, no pomar e nos cuidados à volta da casa. Cuidar do entorno da singela casa é a forma mais imediata de celebrar a vida junto às árvores, às nascentes e ao chão. Dormir no silêncio denso da serra, não se trata de largar-se numa noite sem sons; pelo contrário, é um silêncio cheio, variado, repleto de pequenos sons. São conversas as mais diferentes entre si: o pipiado de alguns pássaros noturnos, particularmente a coruja e o curiango; os grilos e lufar de mariposas; e um sem-fim de folhas roçando em folhas.
A horta e o pomar, sem dúvida, representam uma fonte de sabores que misturam nutrição com poesia - cores com formatos os mais inusitados, porque orgânicas, sem os brilhantes tons artificiais das hortaliças e frutas mantidas a agrotóxicos.
Tudo isso junto, certamente justifica viver à margem dos limites territoriais da cidade; uma vida sem os sobressaltos dos muros e cercas elétricas - e não estou falando de São Paulo e outras cidades. Nas pequenas também nasceram cercas elétricas qual cipó agressivo contra as quais não há manejo, defesa ou capina. As casas das cidades mineiras pouco a pouco vão se enfeiando com essas muralhas de segregação. Sei que sou um sonhador, mas não estou sozinho nisso - Lenon que me perdoe a má tradução. Pelo menos Vania e alguns vizinhos que jamais estiveram pelos mundos que estivemos, formam um conluio contra esses sintomas sociais que misturam os mais estranhos sintomas da psicanálise: esquizofrenia, perversão e outras figuras freudianas.
Creio que o que vivo não pode ser chamado a compor uma recomendação de como se deve viver. Mas, razoavelmente livre dessas amarras (pois livre nem o santo shivaista que vive nos montes que circundam o Everest de fato está), vou fazendo alguma força contra essa sanha destruidora. Pequena, na verdade ínfima, resistência aos chamados vazios das formas de vida ultramoderna. Para isso, me regozijo, e nisso Vania chega a ser mais gritante que eu, com os rabanetes que se apressaram em inchar com seu picante suco; com as folhas robustas das couves manteigas; com os macios caquis vermelhos - como se isso fosse o suprassumo do viver.
Ok, já sou acusado de alienação, de conservadorismo, de comodismo mesmo. Não me importo. Não saberia viver doutro modo, e não respeito o modo de viver da maioria ofuscada pelos dispositivos modernos, sem ao menos precisar deles. Argumentei com um colega de viagem a São Paulo, que a necessidade me faria mudar de celular. Por enquanto, não sabia de nenhuma necessidade nova que me fizesse mudar de aparelho. Mas o espertinho me disse: E quem está falando de necessidade? Estou falando de ostentar, de não ficar para trás, de seduzir os olhares!
Preciso aprender novos termos para conversar com os usuários de celular, computador, Ipad, Ipod e outros, pois eles não se interessam por rabanetes orgânicos, sustentabilidade ambiental ou reciclagem. Estou me sentindo um pouco fora de moda, apesar destes serem os assuntos mais atuais no mundo!
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