segunda-feira, 3 de agosto de 2009
As mulheres, as minas e as caixas d'água!
As águas que usamos para beber e no regamento geral da horta e flores, vêm de dois olhos d'água com mais ou menos 1100 metros de altitude. Nascem por debaixo de rochas gigantescas acima de nossa morada e descem por um vão na costa da serra como se fosse as curvas para dentro num corpo feminino. Aliás são vãos que formam regos delicados ladeados por colinas, como aquelas da mulher. Por isso acredito sempre estar me relacionando com o feminino quando arremedo por aqueles fundos buscando reunir a água que nos alimentará a todos. Os pequenos veios líquidos, delicados, são facilmente captados e, na sua docilidade, se deixam dirigir serra abaixo até caixas estrategicamente colocadas para distribuição pelo terreno. Mas, uma vez ali reunidos alguns milhares de litros de água, a realidade muda drasticamente. A domesticação do fluido se torna problemática, exigindo horas de engenharia aplicando um conhecimento puramente intuitivo, experimental. Arrocho algumas abraçadeiras de metal aqui e ali tentando que o líquido se mantenha onde quero que fique; aqueço as mangueiras de plástico em água quente para que, ao expandir, aceitem que se sejam empurradas com facilidade por sobre emendas que darão em aspersores sobre as plantas. Quando resfriam, as mangueiras se apertam, intimamente, e eu as uno com mais uma abraçadeira para que o serviço dure por alguns anos. Quando as caixas d'água enchem, meu orgulho de ter domado as centenas de libras de pressão que elas fazem contra o encanamento água vai por água abaixo. Lá está um pingo líquido aqui, ali e acolá, se imiscuindo por entre as abraçadeiras e mangueiras fortemente arrochadas. Limpo as mãos barrentas e enxugo o suor do rosto um pouco frustrado e penso: “Quem mandou se meter com esta mulher, suas dobras e seus fluidos?” Ela está devolvendo em fúria a domesticação impingida àquele dócil filete de água que descia sem esforço ou impedimento, tagarelando pelas pedras e árvores até desaguar no Cervo.
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