Sou daqueles para quem árvores de natal jamais significaram mais que desperdício. Não me orgulho disso, pois parece que os que se dedicam a essa atividade pueril são mais felizes do que eu! É uma felicidade sem consistência, quase idiota, mas que coisa tocante! Olhinhos de adultos e olhões de crianças fitando fascinadas aquelas árvores piscando... e piscando... e piscando... E aquelas avós, e avôs, e pais, e mães dizendo: “Qual o problema de uma fantasiasinha assim inocente; quem não acreditou nisso um dia; porque fazer as crianças enfrentarem a dura realidade sem papais-noéis, e fadas, e gnomos antes do tempo; depois, como vão se encantar com a vida etc etc?” E eu, esperando que minha mãe não me desminta, afirmo que jamais acreditei no noel. E tenho quase certeza de que sou bem perto de normal! Bem, em certa idade, que não posso precisar, talvez tenha ficado um pouco triunfante, estranhado e frustrado, quando puxei a barba do noel e havia o rosto de minha mãe por trás dela. Mas e daí? Pode ser a prova de que nunca engoli aquela história de “ho-ho-ho” meio desafinado! Por via das dúvidas não direi que postei esta semana! Vai que ela tem a prova irrefutável de que algum dia levei a sério essa bobagem adulta! Mas porque falava disso mesmo...? Ah! Lembrei!
Dias atrás falei que esperava os pirilampos voltarem e agora lá estão eles! Passeiam pela serra escura, acendendo e apagando suas luzinhas, tal como pequenas lâmpadas numa árvore de natal gigante, mas com o dom suplementar de irem e virem, incansavelmente, por toda a noite, cessando com o anunciar do dia. Alguns vagalumes mais afoitos, num esforço inominável, acendem aqui perto, atravessam as copas dos pinheiros e fenecem depois do angico e da árvore de azeitona-do-Ceilão. Imagino o gozo de poder fazer luz própria, uma proeza que religiosos daqui e de acolá sonham: iluminar-se, tornar-se luz. Um dia, na Índia, em Kajuraho, ouvi um religioso dizendo: “I am the sea, I am the sun”. E repetia essa ladainha mântrica por horas. Mas, coitado, por mais que se esforçasse e fosse honesto nos propósitos, não brilhava nem a metade de um vagalume!
Vagando com seus lumes, pequenas lamparinas riscando o quadro negro da noite, escrevem a vida nos morros; daqui alguns dias somem e vão dormitar em alguns nichos do mundo, criar suas crias, e estas tomarão seu lugares e outros olhos olharão seus piscares, pois, tal como vagalumes, o lume de meus olhos não estarão aqui para mirá-los.
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