Passamos, Vania e eu, o sábado e domingo entre podas de hibiscos e arrumações da estrada que se estende do portão de entrada à velha casa que moramos. Podar as flores é um trabalho até bastante fácil. Quanto a aplainar a estrada a base de enxada e enxadão, trata-se de serviço que moe os músculos, endurece dolorosamente os punhos, lancina as costas e lombares, lateja os dedos dos pés e pinça os ombros. Isso tudo com muita sede e fraqueza que exige alimento calórico várias vezes no período. Não exagero. O chão está encharcado por chuvas de trinta dias quase ininterruptas, formando uma lama pegajosa e pesada, que gruda na lâmina das ferramentas e colam nossas botas ao chão. O cheiro de folhas podres nauseiam pelo tempo que estão deteriorando na chuva e a camada de pedriscos colocados no correr de décadas vai desaparecendo, tornando a tarefa de conduzir o carro serra acima uma aventura fora-de-estrada, literalmente.
Esse caminho tem mais de uma centena de anos e já foi uma via pela qual já passaram pessoas que buscavam novas fontes de ouro para garimpo; depois virou "rodovia" por meio da qual trafegavam carros de boi, caminhões e veículos de transporte de gente até as regiões vizinhas. Há pouco mais de vinte anos, construíram a estrada asfaltada para Espírito Santo do Dourado (aquela que corro a pé lá embaixo) e a que passa em frente de minha casa foi abandonada. Quando comprei este sítio, em 1994, o caminho, embora precário, estava preservado apenas até a entrada da velha casa. Daquele ano até agora venho tentando manter suas condições de rolagem a duras penas. E é disso que estou falando. De limpar a capa de terra arrastada sobre a base de pedregulho, para que os pneus se agarrem suficientemente, não nos deixando a meio caminho, no barro e na chuva.
Na noite passada mal pude dormir com dores nos ombros; Vania com dores nas costas. É claro que esta que se aproxima não será diferente. Mas valeu a pena! A estrada velha e rústica está mais transitável e nós um pouco menos ameaçados de atolar tendo que amassar barro até em casa. Afinal, as chuvas continuarão por pelo menos mais três meses...
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