Chove como há muito não se via! Quase o tempo todo. É um aguaceiro de encharcar o mundo, pelo menos aquele que meus olhos podem abarcar em uma só olhada. Lá embaixo, o vale do Cervo, particularmente sua cava, desaparece na imensidão de pingos que despencam um do lado do outro, caprichosos e úmidos. Formam uma cortina de delicado brocado prata ou cinza bem claro que me impede de ver o dorso das colinas que ladeiam o rio. O concerto das gotas grossas e miúdas caindo sobre folhas largas, lisas, enrugadas, compridas e camurçadas acabam abafando todos os outros sons do bosque. Disseram, os especialistas em traduzir o que as nuvens dizem, que choverá ainda por mais dez ou doze dias ininterruptamente; é uma festa para as plantas que anseiam por água há meses.
Mas, como tudo tem seu lado, digamos, menos cor de rosa, e até mesmo escuro, agora vamos passar por meses de vicissitudes com o barro, com a roçada quase que semanal do capim e pequenos ramos que alegremente crescem e nos apavoram com sua invasão. Sem pedir licença. Apesar disso no horizonte, a verdade é que vamos comemorar ainda por um bom tempo a felicidade líquida que jorra dos céus. Respirar esse ar úmido e limpo é tudo de bom. Ver o pomar juntando seus frutos nos ramos é uma epifania. Ver as árvores aproveitando para crescer ainda mais é muito confortante.
Chuva?! Quem venha mais!
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