Manhã gelada na serra! Daqui de cima posso ver a calha do rio do Cervo sob uma massa compacta de vapor, agora que o Sol já aquece a geada. A estrada que vai a Espírito Santo do Dourado, como uma cobra grande e cinza, com uma faixa amarela no dorso, se esconde nessa brancura de doer os olhos, como se fosse seu ninho de algodão. O que fará lá embaixo, cinco quilômetros depois, no bairro do Cervo e suas poucas casas aglomeradas em torno do bar do Marquinho e da igrejinha? Os moradores, nesse momento envoltos na cerração, bem no meio do ninho dela. Dez para a sete, o dia começando, e o ônibus já desceu a encosta, como um bichinho marrom e branco, deslizando pelas costas da serpente, levando trabalhadores cujos empregos se distribuem pela cidade. Depois vai desovando gente desde o São Geraldo até o ponto final. Mais tarde, entre onze e quarenta e meio dia, serei eu um dos últimos a ser vertido do ventre do ônibus no átrio da rodoviária; lá comprarei a passagem a São Paulo e no meio da tarde estarei sentado em minha poltrona permitindo que a primeira história de vida verta do ventre de alguém, com suas contrações e relaxamentos, pedindo que acolha seus restos e com eles possamos vislumbrar uma nova vida...
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