sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Experiência, maravilhar-se, viver!
"Todo discurso sobre a experiência deve partir atualmente da constatação de que ela não é mais algo que ainda nos seja dado fazer. Pois, assim como foi privado da sua biografia, o homem contemporâneo foi expropriado de sua experiência: aliás, a incapacidade de fazer e transmitir experiências talvez seja um dos poucos dados certos de que disponha de si mesmo". Esta "destruição" da experiência, segundo Agamben, pode ser o resultado da banalização da vivência cotidiana onde o cidadão volta "para casa à noitinha extenuado por uma mixórdia de eventos - divertidos ou maçantes, banais ou insólitos, agradáveis ou atrozes - entretanto nenhum deles se tornou experiência".
É nisso que venho tentando meter a colher já há três décadas, quando insto as pessoas, por meio de técnicas de si advindas do Samkhya, do Zen, do Tao e das artes existenciais de cada uma destas experimentações do mundo. Portanto, se por um lado acho que Agamben cada vez mais tem razão (ele escreveu isso em 1977/8), esclareço que essa foi, e é, a batalha de muitos sistemas filosóficos indianos e orientais para que se mantenha íntegra a capacidade para fazer experiência. Centro a atenção nas práticas chamadas 'sadhana', que surgiram no período matriarcal, pré-védico e algumas técnicas aprendidas nas artes marciais chinesas, as quais ensinei entre o fim dos anos 70 e fim dos 90.
O homem de que trata o autor é o homem ocidental, e isso nos autoriza, embora não se resolva nisso, a dizer que não é a mesma realidade naquelas sociedades. Não quer dizer que não sejam atacados, neste século, pela mesma 'doença'; a globalização tem tentáculos infernais e de alcance inimaginável! Mas podemos propor, com uma margem de segurança, que seus modos de realizar sua subjetividade ainda inclui a "experiência" e é isso que venho descortinando, embora com as limitações de ser um ocidental, solapado pelo mesmo fenômeno.
O autor rebusca, de modo primoroso, a perda da autoridade advinda da experiência, uma vez que a verdadeira autoridade prescinde da indústria do comportamento ou dos manuais de auto-ajuda. Na verdade, os manuais e as técnicas de aprendizado, por mais bem intencionados que se coloquem, só fazem destruir a "experiência". No ato mesmo de treinar um comportamento, ou ensinar uma verdade, ou propor um sistema de pensamento positivo, acabam por retirar o sujeito desta incerteza criativa que é o cimento para a experiência; é o fim deste "jogado no mundo" sartriano, onde o homem pode, pelo gratuito da vida compor-se como "clareira" vivencial - experiência, pois.
Na penúltima postagem do blog http://levileonel.blogspot.com, dia 18 de fevereiro, perguntei, junto com Mathieu, personagem sartriano, como fazer para que minha vida não malogre, ou que faça algum sentido, ou que seja uma vida que faça mais que um breve alarido sobre o mundo. Creio que um bom começo é resgatar, mesmo que sem sendas demarcadas, demarcações que impossibilitam a vivência de uma "experiência". A natureza mesma desse fenômeno é a de que desdiz a aprendizagem, por isso não se dá na presença da simples técnica, embora sem a técnica jamais se dê, paradoxalmente. Uma vez Sartre propôs o termo fulguração para esse sentimento de ser clareira no mundo, ou do mundo; talvez eu devesse seguir minha investigação por aí... pela fulguração do homem como instante vivencial sem eira nem beira, e por isso mesmo, especialmente significativo...
Sobre as vivências que dirijo em SP: http://levileonel.blogspot.com
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