Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Bom ano novo!

Último dia do ano! A chuva arrefeceu...
A fazer, nada de especial. Acordamos cedo, uma vez que ontem dormimos cedo. Café da manhã usual; alguns exercícios físicos; Vania começou a preparar uma petição inicial com pedidos de ressarcimento por dano moral a sua cliente.
Eu e Kelly Lulu Star fomos correr lá em baixo na rodovia, como de costume. Na ida passamos por uns casais de bugios com seus filhotes enroscados no peito, nas costas e nos galhos das árvores. Fico em silêncio, enquanto eles reclamam muito, talvez dos latidos de Kelly. Ato contínuo, se escondem como manda o figurino dos macacos. Fazia tempo que não via bugios tão próximos da estrada e das casas! Talvez o feriado e a região em silêncio ajude a explicar o fato. Além de um bananal bastante fértil, é claro!
Mais algumas passadas e uma dupla de pica-paus de cabeça alaranjada, parecidos com o chen-chen, porém menores, comem formiga-da-umbaúba. É uma batida ritmada e seca no tronco da Umbaúba, talvez para eriçar os ânimos da pequena formiga, considerada uma das mais violentas e venenosas da mata atlântica. Já fui pego por uma dúzia delas! Como se diz por aqui, meu couro ardeu por horas, inchado e dolorido. É um perfeito consórcio entre a Umbaúba e a formiga, que protege a planta e mora em seu interior sem destruí-la; é maravilhoso!
Continuamos a corrida... Passei por um caramujo que desliza silenciosamente pela brita do asfalto. Pego-o para evitar que termine como um outro que há dias vira esmagado pelos pneus de algum carro. Me chama atenção que, em quinze anos somente tenha visto estes dois caramujos dos grandes (em geral os que vivem na serra tem pouco mais de um centímetro de diâmetro – sua casca – e três centímetros o corpo vivo). Este, pelo contrário, a parte viva tem 20 centímetros! E sua casca enche minhas mãos em concha!
Tomei a decisão de deixá-lo em em lugar estratégico para depois da corrida levá-lo para minha casa e deixá-lo bem seguro perto das minas de água.
Continuamos...
Passei por sobre uma cobra verde morta no asfalto e pensei que fiz bem em livrar o caramujo deste destino. Olhei-a penalizado. Chegara a adultice, com pelo menos quarenta centímetros de cabeça a cauda; cabeça inocente, sem aquelas formas das temíveis jararaca e cascavel. Resolvera se aventurar do outro lado da rodovia! Talvez tenha feito isso por toda uma vida antes desta manhã fatídica.
Subimos a serra até próximo do bar do Ademir, alguns quilômetros depois e serra acima... Voltamos correndo devagar para eu achar o caramujo. Peguei-o na mão e o virei de “pernas” para o ar facilitando seu transporte. Encolheu suas antenas e o farto “bigode”, limbentos. Ao subir por um atalho que ladeia o cafezal fui seguido por umas gralhas de rabo branco desconfiadas que fossemos mexer com seus filhotes escondidos nas amoreiras.
Chegamos, mostrei para Vania meu achado, interrompendo sua petição, e fui deixar o caramujo em lugar seguro. Antes disso, Gabi, Rabicho e Soneca foram verificar de que se tratava; cheiraram longamente o bicho e desistiram de considera-lo uma caça. Assisti tudo um pouco tenso, mas como Kelly não tinha tido nenhum interesse, presumi que assim seria com os outros. Mas Gabi ainda é uma filhote e bem poderia se empolgar.
Quando disse a Vania que descreveria a manhã deste último dia, como um dia comum, por aqui, fiquei com a sensação de que poderia ser considerado não tão comum assim. Mas é a pura verdade! Essas coisas acontecem por aqui e não são extraordinárias.
Espero que o ano de 2010 continue assim: comum, sem grandes surpresas; Vania com muitas petições e eu podendo correr serra acima na manhã de cada dia que se apresentar.
Para os que me lêem um grande e extraordinariamente bom ano novo!