O outono começou frio por aqui. Rapidamente, em três dias, foi de 22 graus a 7. Acordamos hoje, meio rijos, ainda desacostumados com o ar gelado. Mãos duras na água da torneira para fazer o café da manhã. Lá fora, às seis da manhã, o dia ressurge deslumbrante. Na madrugada parece que geou; nossa grama amarelou drasticamente!
Nem bem começou e o outono já me lembra a infância na casa de sapé, taipa e fogão a lenha nas manhãs frígidas de Apucarana; as alpargatas Roda quebrando gelo na estradinha que me conduzia à escola primária; os parcos agasalhos feitos de flanelas coloridas; o café com leite onde mergulhava o pão sem manteiga e comia com as mãos entanguidas; as calças curtas com os joelhos doloridos estalando escandalosos. Transido de frio, estudando encolhido na carteira insensível ao meu desconforto, ia desfiando letras e fazendo um rosário com elas até que acabavam por fazer sentido, sob a paciente insistência da digna Dona Lourdes.
Eu era pobre e não sabia! Mas logo essa realidade se descortinou...
Com o tempo acabei inventando outras riquezas para compensar aquela pobreza e acabei me dando conta de que além de pobres podemos viver na miséria - afetiva, física, social, moral e até, acreditem, econômica! Ou será que a última pode ser colocada em primeiro lugar na fila da existência?