Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

domingo, 27 de junho de 2010

As vinhas da ira do frio e do calor!


Há quarenta dias a temperatura fica abaixo dos doze graus à noite e até 27 durante o dia, um verdadeiro choque térmico esperado com ansiedade para forçar as uvas no seu melhor caldo. Para ser perfeito, pelo menos para as condições locais, isso deverá se esticar por mais quarenta. Olho com atenção para as ramas secas das uvas; vejo-as perdendo folhas a cada dia, ao ponto de hoje restar apenas meia dúzia delas em cada videira. Digamos que este sofrimento, que as faz adormecer para não morrer e lançar abaixo todo lastro que poderia cobrar-lhes vida, é parte de um ciclo vitorioso; sempre que isso se dá de modo harmonioso, temos bons frutos na primavera. É disso que trata o morador no campo - de ciclos, ritmo, espera, paciência, surpresas boas e ruins e principalmente da visão de conjunto. Trata-se de cálculo, não matemático, no máximo aritmético, das probabilidades do clima e força bruta resultarem em um chão que verte frutos. Nada se compara na vida citadina com essa entrega do homem de pequena propriedade rural aos mandos e desmandos do ar, da chuva, dos vapores matinais e serenos noturnos. Nada se aproxima desta humildade de olhar para o firmamento e tentar ler as mensagens cifradas das nuvens, da auréola lunar, da cor do sol poente, sabendo que se está a mercê do humor das estações.
      Por isso, eu que já me habituei com certa instabilidade no semblante da natureza, estou aqui de olho nas manhãs, rezando para que as ninfas e sei lá quem mais, nos deem mais algumas noites frias com dias ensolarados. Tudo isso para que possa ter a agradável experiência de colher, deliciado, redondas uvas coloridas, dispostas em cachos, que "despinicarei", como dizem os mineiros, uma a uma, saboreando devagar, porque tudo que é bom na vida campesina, dura uma estação - no máximo.