Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O som e a fúria!

Há certo gozo com a agressividade de se viver em São Paulo, ou nas cidades, ou aqui no Cervo; de ordens diferentes, é verdade. Há certa fúria surda na defesa comezinha de ser cidadão e ter direito a ir e vir, fazer e desfazer, viver no espaço citadino... Penso nisso, quando, ao andar pela Domingos de Morais, próximo ao consultório em São Paulo, fui ouvindo uma música que tocava no carro de um jovem. Nada que eu ouvisse no fone de ouvido ou num fundo musical para uma tarde de leitura nos meus sábados no Cervo. Sequer ouviria aquela música para me divertir ou esquecer que estou no ruído da cidade; prefiro o rugir dos carros! Mas lá estava eu ouvindo-a! O jovem talvez já estivesse com os tímpanos rompidos, por isso nada sabia da vizinhança!? Eu não queria ouvir aquilo..., mas ouviria até virar a esquina, e cem metros depois ainda podia ouvi-la, nitidamente. Depois, só o troar dos carros...
Como saber que se está invadindo os limites do outro, numa cidade em que se consegue o milagre de colocar dois corpos em um mesmo espaço físico? Bem, para que a fúria não me surgisse em algum escaninho do corpo, pensei em delícias que posso criar, no meio da fúria do som! Que William Faulkner não me leia do seu túmulo quase centenário, fazendo jogos com seu título de livro...

terça-feira, 16 de junho de 2009

De PA a SP - II!

Pois é! Já em SP! Moleza! O frio menos intenso; a correria distrai; o jogo de ombros no metrô para encontrar um lugar ao sol, isto é, no vagão. Céu cinza, mala na mão; celular na mão, um olho no céu (será que chove?); a vida contada em minutos (segundos?), os minutos contados como a razão da vida; nada a reclamar - pois tudo parece natural, como se não fosse um jogo de forças entre os estratos sociais! Então vamos...! Daqui a pouco ouvirei outras versões de São Paulo...

De PA a SP!

De domingo passado, até hoje de manhã; frio intenso, ardente nas mãos, mesmo por debaixo das luvas; ar agudo entrando pelas narinas! E o prazer de fazer algo que faz parte de mim desde os nove anos de idade...!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Segunda em Pouso Alegre!


Dia de começarmos a aguar a horta e flores recém-plantadas! Quando percebemos, já são três dias sem chuva! Apesar do frio manter úmido embaixo da terra, de fato poderemos ter prejuízos se não aguarmos todas com generosidade. Apesar da baixa temperatura nossa horta está em uma situação no terreno que não permite cair até zero e “queimar” nossas verduras. Sua textura delicada e crocante não resistiria a uma camada de gelo, por mais fina que fosse. Ainda assim, prevenidos, ficamos prontos para aguar também durante a geada. Se ligarmos os aspersores de água o gelo não se forma e salvamos a horta! Nada fácil suportar a temperatura e lidar com água!
Agora estou em PA para contatos com o Conselho de Psicologia, o museu, a UNIVÁS. Os dois últimos em função do artigo sobre o teatro municipal. Ah! E também para comprar provisões! Só para me lembrar: abaixo deixei escrito o sábado e o domingo. Sobre aquelas perguntas de V. a partir do livro Tratado de ateologia fiz um resumo no http://www.levileonel.blogspot.com

Sábado, 13/06 – Surpreendentemente o dia amanheceu azul claro e limpo, apesar de gelado (quatro graus às sete e trinta e com sol). Os três dias anteriores foram chuvosos! De manhã fiz os buracos onde colocarei o varal de roupas; o anterior está de tal modo localizado que a sombra da serra o atinge por volta das três e meia da tarde. Com isso perdemos pelo menso mais uma hora de sol nas roupas. Localizado entre a tulha e o setor das nespereiras (na foto está do meu lado direito), ele será perfeito também no verão. Estamos a poucos dias da estação de inverno e os dias estão cada vez mais curtos, particularmente aqui nos bosques que estão na face sul da serra. Isso diminui bastante nossa exposição a luz; às dezesseis horas já sentimos a temperatura despencar, por causa da sombra gigante da serra. Seus ombros ondulados tem seu ponto mais alto justamente atrás de nossa casa.
Ainda antes do almoço fomos para o pomar para dessa vez livrar os cambucizeiros, pitangueiras, cerejeiras, bem como mais alguns pés de limão galego, rosa e o pé de jaracatiá. O trabalho é pesado! Parte é feito por mim na roçadeira, baixando a braquiária e ramos finos; na foice cortando assa-peixes e alecrins; no enxadão, arrancando tocos que deixarão livre a terra, para que na estação das águas eu não tenha tanto prejuízo com peças sobressalentes da roçadeira (os tocos destroem com as laminas e cardãs, principalmente). V. carrega os ramos cortados e os deposita em uma vaga deixada por um limoeiro morto por brocas, onde, depois de secos virarão matéria orgânica (daqui a dois anos) e as sobras irão para o fogão a lenha. Usa a enxada para juntar o capim em voltas das árvores e carpir algumas touceiras que não foram tosadas pela roçadeira.
Almoçamos legumes, verduras, pimenta biquinho, ervas da horta e uma porção de carne. Descansamos e voltamos para o pomar. V. continuou o que fazia de manhã e eu passei a podar as árvores, para retirar galhos secos e abrir a copa para entrada de ar e luz. Prestei atenção particular as pitangueiras e cerejeiras que são mais delicadas. No último terço da tarde saímos pela propriedade verificando se havia formigas e colocando iscas; se não fizermos isso agora no outono/inverno nada colheremos especialmente dos caquizeiros, que são os preferidos das saúvas e quenquens. O dia esfriou drasticamente, sem aviso; de repente a pele enrijece, as narinas ardem e camiseta suada por baixo de um grossa camisa de trabalho, já não dão conta do ar frio. Ajeitamos o canil para resistir à baixa temperatura, com vários panos dentro das tocas de cada um de nossos amigos, cortinas para cortar o vento e bastante ração reforçada com carne e legumes para que façam bastante calor corporal. Seus olhares apaixonados parecem confirmar que tivemos sucesso no empreendimento! A noite foi realmente a mais fria desde que o outono se instalou...

Domingo, 14/06 – Correr hoje de manhã foi mais sacrificado. Pela primeira vez desde que o outono se fixou tive que usar luvas para correr às oito e pouco da manhã! Resolvi correr um pouco mais tarde para evitar muita diferença de temperatura (zero grau de madrugada e quatro às sete). O ar entra cortante pelas narinas e esta, por sua vez, se defende produzindo líquidos que tem a função de manter a temperatura minimamente equilibrada preparando para que não entre tão fria nos pulmões. Em compensação a neblina e o sol brilhante deram show! Cada metro da estrada foi uma experiência sem preço! V., desanimada por um resfriado mais forte, teve que andar apenas. Aproveitou para fotografar a paisagem e mostrar o itinerário que fazemos na corrida diária.
Ao voltarmos retomamos o pomar, onde usei a roçadeira para fazer um novo pedaço. Pelo fato de ter ido para Santa Catarina, por dois anos, e ele ficar sem cuidados, isso fez com se tornasse bastante “sujo”, o que exige, pelo menos por mais um ano, esforço de recuperação. É um pomar bastante variado e grande, com mais de trezentas fruteiras! Hoje só roçamos e carregamos os ramos grandes para o local em que será transformado em matéria orgânica. Almoçamos e procuramos por formigas. Decidimos descansar no final de domingo lendo. Eu: um capítulo de História e memória (Jacques Le Goff); o artigo Arte como produtora de memória social: uma discussão a partir da
obra de Vitor Meirelles (Roberto Heiden); 3 capítulos De Cidade antiga (Fustel de Coulanges); primeiro capítulo de Cidade dos sentidos (Eni Orlandi) e Terra à vista! (idem). A idéia é preparar um sub-capítulo de meu artigo sobre o teatro de PA – para isso tenho que ler sobre teatro, patrimônio histórico, sentido discursivo de memória etc. Encerrei parte dos estudos as vinte e uma horas.