Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

terça-feira, 29 de maio de 2012

Outono, Dino e outros bichos!



O Outono já vai limpando com sua vassoura de vento os vestígios do verão e ouço na serra o ronronar das árvores farfalhando, eriçadas pelas mãos insinuantes do vento sul à tarde e noite. De madrugada o sopro vem do norte e passa por sobre nossas cabeças indo ter com o vale lá embaixo. Os ciprestes já mostram seu amarelecimento feito de milhões de pequenas sementes que vão secando e lhe dando o tom dourado ao Sol. Dependuradas de cabeça para baixo, presas por garras finas e fortes aos galhos rústicos, vejo maritacas, periquitos e tirivas quebrando-as, uma a uma, num trabalho paciente que não sei dizer se se trata de comê-las ou apenas um exercício do bico.
Talvez apenas brinquem com as sementes dos ciprestes! A prova pode ser as gargalhadas que dão zombando de minha ignorância. Olham para mim com seus olhinhos negros, torcem a cabecinha verde e falam num idioma que não conheço, mas que, certamente, estão me colocando na pauta de gozação do dia...
Depois voam brilhando seu verde azulado com matizes de amarelo e vermelho sob os raios solares que incidem sobre sua penugem bem penteada.
Às vezes ouço uma vozinha esganiçada vinda do milharal e tenho certeza de que se trata do Dino, que apresentei na última blogagem... Bem, Vania  e eu chamávamos aquela maritaca por "Dino", para nos referir ao Dino da Silva Sauro, da tevê. Entretanto, para nosso constrangimento, um especialista nos disse que se trata de uma "Dina", pois suas penas não são tão coloridas quanto as dos machos. O que será dela que tratamos como macho?! Acabará tendo que conversar com um especialista para encontrar sua verdadeira identidade? Só o deus das maritacas para interceder por ela...
Sim! O Dino, quero dizer, a Dina, já escapuliu e voou de casa, ganhando mundo. De vez em quando, assustado (desculpe! assustada) aparece para comer umas guloseimas humanas, como pão integral e queijo, voando para seu destino em seguida. Bem, às vezes dorme em casa, pois a Dina experimentou esta loucura que é a casa humana e os afagos de Vania em seu redondo bico e macias penas... E adorou!
Enquanto isso, lá fora, nos ciprestes, o mundo das maritacas anda no ritmo de sua religião, fruindo das benesses de mais um outono ofertado por seus deuses. E eu aqui, invejado de suas certezas...

Pos scriptum: Esses prazeres de conhecer o Dino só foram possíveis pelo carinho do Gideon, aquele do Posto Bambuí, que teve o desprendimento de nos trazer a maritaquinha que embevece Vania na foto acima. A história é a seguinte: o Dino caiu da caixa d'água sobre sua tevê; por um dia e meio ele cuidou do filhotinho e depois trouxe a nós para que cuidássemos dele. Nada sabemos dos pais de Dino, um órfão que seu deu muito bem! A começar pelo próprio Gideon que permitiu que o bichinho podia ficar conosco... O Gideon é aquele mesmo que um dia nos trouxera a Gigi, que contei a história mais abaixo. Grande sujeito...