Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

sábado, 16 de janeiro de 2010

Para não dizerem que exagero!

Hoje resolvi correr a tarde, e lá fomos eu e Kelly. Eu a levo comigo, porque ela já conhecia esse rito de correr a pé, desde que morava em São Paulo, junto com dona Vilma, o menino Vitor e meu cunhado Valdir. Como vivi uns bons dois anos em sua casa, Kelly habituou-se a me observar na preparação para ir a rua. Mal via eu colocar sapato de corrida e calção e pronto! Começava a latir e dar pulos de alegria. Não se acalmava enquanto eu não a levava a duas praças do Jabaquara e lá corria com os outros cães, um olho neles e outro em mim. Eu corria em círculos e ela me interceptando, em linha reta. Isso criou uma paixão mútua - nós adoramos correr juntos.
Há, contudo um motivo suplementar para não levar os outros. Kelly sempre passeou em calçadas de São Paulo, por isso tem um hábito muito bem enraizado de respeitar o asfalto. Por exemplo, na estrada onde corremos, anda próximo da linha branca que divide asfalto e o meio-fio, já que não há acostamento. Já o Rabicho, o Soneca e a Gabi, são quase bichos do mato; jamais andariam na linha, sem metáfora. Isso evita acontecer o que venho vendo sistematicamente - atropelamentos dos mais variados bichos em certo trecho da estrada. Exatamente naquele que uso para correr.
Então, hoje, de novo, passei pelos sentimentos que descrevi duas postagens abaixo. Encontrei um saguí atropelado quase no mesmo lugar que encontrara o sauá. Voltou-me a indignação! Veja a delicadeza de suas formas e linhas; e também seu delicado modo de viver. Desanimado, publico as fotos de seus delicados restos... nas delicadas mãos de Vania.
Assim como a Kelly, quando vê um bichinho morto na estrada, Gabi e Rabicho traduzem nos olhares essa trágica acontescência. Posso jurar que vejo tristeza em seus olhares, tal como no meu e de Vania





sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Errata, Ovídio e o Sauá!

Outro dia (10/01/10), falei apaixonadamente do guaxinim atropelado na estrada em que faço minha corrida a pé, acompanhado da fiel escudeira Kelly. De uma hora para outra, após a visita do Ovídio José, há dois dias, me vi sem o objeto da paixão! Nem acreditei quando ele, do alto de sua sabedoria escupida a ferro e fogo - ferro dos instrumentos de carpição, e fogo celeste aparado por um boné já esgarçado - me diz que o bicho morto era um Sauá! Um macaco, portanto! Fiquei ali abilolado, pensando (agora que ele dera o nome ao bicho) que só podia ser um... um... guaxinim, bolas! Puxei pela memória e vi sua cor avermelhada. Pensei: "Ah, é um filhote de guaxinim, só por isso!" Bicho sem manchas escuras aneladas no rabo e "óculos" nos olhos. Argumentei com meu umbigo: "Ah, mas a cabeça estava destruída pelas rodas de um carro e a cor não seria por que tratava-se, justamente, de um filhote?!" E o que dizer dele ser atropelado, andando na pista; macacos trafegam pelas árvores!!  Bem, neste caso ali não há árvores que cubram a pista. É verdade, capitulei, o guaxinim e o macaco  teriam, necessariamente, que usar o chão pra atravessar seus domínios! Aí me rendi, as evidências. O bicho era de fato um sauá, um macaco de pelo acobreado, que divide o lugar com os bugios e os macacos comuns, que o Ovídio chama por "macaco".
Mas, quanto ao resto não retiro uma vírgula! Até pelo contrário. Ao ouvir o Ovídio José, que tomou a decisão de removê-lo de lá, porque outros sauás estavam olhando-o, como se o velassem de cima das árvores, me voltou a indignação. Eu o deixara à vista para que os urubus pudessem se alimentar dele. O coração do Ovídio - não confundamos com o poeta que fez "A Arte de Amar" as mulheres - não suportou a cena - pois além de amar as mulheres, este Ovídio que vos apresento, ama a natureza..
Como já adiantava, o resto do texto não desdigo...  

domingo, 10 de janeiro de 2010

O debut de Gabi Blue na vida sexual!



Estas fotos foram clicadas hoje, há pouco, depois do banho semanal da trupe. Dia ensolarado, tarde brilhante e quente! O milharal que se vê ao fundo, de repente torna-se ruidoso ao vento e verdejante como um tapete felpudo; alegre por ter arrefecida a chuva. O gramado em volta da pequena casa está aparado e as flores tipo chapéu-mexicano, são visitadas por borboletas grandes, rajadas de amarelo e preto, como se vê em uma das fotos. Tudo borbulha vida e não poderia ser diferente com nossos cães que acabaram de passar por uma experiência inédita.
Trata-se do primeiro cio de Gabi! Pois é! Aquela filhotinha cuja foto eu aparecia com ela nos braços há seis meses. Resolvemos deixar todo mundo passar por este drama - inclusive para nós, que dormimos mal com os uivos e latidos do Soneca Golden Boss e Rabicho Bicho interessados em um breve namoro. Fizemos uma grande confusão com nossas vidas nos últimos nove dias. Era um tal de prende um na tulha e outro no canil enquanto ela passeava breve (por receio de aparecesse algum vizinho inaudito), fazia seu cocô e voltava. Aí fazíamos tudo ao contrário. A noite os machos e Kelly Lulú, que nada entendia do acontecido, porque foi castrada ainda antes de sair de São Paulo, dormiam dentro de casa. Cheiro forte de cão, acordar madrugando por causa de seus hábitos caninos etc etc.
Tudo isso para que Gabi possa desenvolver-se fisicamente até uma idade o suficiente para que a castremos. Queremos evitar que aconteça de ter filhotes e termos um verdadeiro caos em nossas vidas (ainda maior que cuidar desses quatros - todos adotados em condições precárias). Imagine-se termos que achar um dono para seus filhotes! Além de doer a beça nos nossos peitos ainda há a possibilidade de serem abandonados como fora Gabi - na beira da rodovia como já bloguei em maio passado. O resultado dessa dedicação aparece neste "ensaio" fotográfico...

Guaxinins, sujeito de mercado e lixo na estrada!



É triste ver um guaxinim - dito camambeva na região - ainda filhote, sem ter trocado os pelos iniciais, estirado no asfalto, atropelado por algum carro; morto. É assim que encontrei, um deles (pois se deslocam em bando) na beira da via que dá para Espírito Santo do Dourado, aquela mesma na qual corro de manhã com a Kelly Lulu. Com a chegada de mais pessoas na região, o trânsito aumentou - nada que se compare sequer ao entorno de Pouso Alegre, mas que já se faz perceptível aos moradores antigos, que como eu, já estão por aqui há quase quinze anos ou mais. Por outro lado, é uma região que de rural vai se tornando de preservação ambiental; algo irregular e instável, porém bem mais consciente do que nas décadas anteriores.
Vania e eu fazemos parte desse contingente de interessados no ambiente - em deixar matas crescerem nas proporções necessárias, plantar bosques com árvores nativas e frutíferas, reservando o entorno de minas e regatos. Percebemos que há uma surda e muda diferença entre nossa atitude e a daqueles que são nascidos por aqui e que insistem em manter pastagem em encostas e beiras de rios e regatos, bem como no uso descabido de agrotóxicos, herbicidas e adubos químicos, sob o argumento míope de que só assim podem conviver com a natureza. Para se ter uma idéia do absurdo desta posição, nossas terras, que, repito, são bem recuperadas (não ainda como sonhamos, é verdade), anos após chegarmos aqui, ainda não podem produzir e manter os nutrientes suficientes para dar frutas como caquis, peras, maçãs e outras mais comuns. O que dizer de terras que são aradas por trator, atacadas por herbicidas, fogo e adubos? São terras imprestáveis, sugadas até a exaustão, que sozinhas mal produzem capim para o gado. É por isso que vejo os pastos como desertos verdes!!
Uma respiração para me justificar. Não esqueço nunca de que esse sujeito do campo é antes de tudo, e principalmente, sujeito de mercado, como eu e você - e por isso vive na contigência de explorar sem piedade a terra, para que esta lhe provenha de meios para que possa frequentar a vida civil. Esse é um ponto cego eternamente presente em nosso campo de visão. Afinal, argumentamos todos, como fará para sobreviver, senão corroendo a crosta terrestre onde vive? Boa pergunta.
Voltemos ao Guaxinim. Esse sujeito do campo, não quer o Guaxinim por aqui; alie-se a isso um tipo de gente que passa fins de semana em seus sítios nas redondezas, vindos de Pouso Alegre e mesmo de São Paulo. São deseducados, inconsequentes, cuja virulência do comportamento destrutivo inocula até o chão em que pisam. Falo disso, pensando nas dezenas de latas de cerveja e sacos de lixo que arremessam na beira das estrada, e que recolho com raiva, tentando manter a beleza deslumbrante do lugar. Esse tipo de frequentador eventual passa por aqui em alta velocidade atropelando tudo que supreende atravessando a bucólica via. Já vi de cães a cobras, de aruás (caramujo gigante) a guaxinins, destroçados por carros dirigidos loucamente. Me pergunto por que alguém dirige naquelas estradas a mais de quarenta quilômetros por hora? Onde estará indo? Relaxar nas montanhas da região? Mas por que a pressa?
Sem ingenuidade, é óbvio que acidentes acontecem e é óbvio que alguns dias estamos atrasados por acidentes vários. Mas pergunto por que o atropelamento de bichos está tão frequente?

Lembrando que quem dirige por aqui é o homem do campo e os visitantes para divertir-se e relaxar, faço um apelo às autoridades para que criem um projeto de educaçao ambiental, sugerindo muito baixas velocidades nas vias de acesso à cidade e sacos de lixo que levem consigo para depositar em locais apropriados, que, por sua vez podem ser ampliados, já que alguns realmente estão a disposição.
Bolas! Que saiam mais cedo de suas casas (aqueles que trabalham) e que olhem com atenção as maravilhas deste lugar (aqueles que visitam Espírito Santo do Dourado). Para isso precisam dirigir bem devagar, senão perdem lances como os Jacus que estavam na beira da pista, tratando de seu filhote, hoje de manhã, enquanto eu corria (a pé, claro).
Para aqueles que achavam que só falo do bom e melhor, por que vivo em um paraíso, sinto desaponta-los.