Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

sábado, 30 de junho de 2012

Ainda o outono!

O outono oficial já terminou há alguns dias. É uma meia estação, dizem. Mas entre outono e inverno creio que há uma estação que medeia, que fica entre uma e outra; uma estaçãozinha em que reconhecemos os olhos de uma e o nariz da outra. Bem, o que quero dizer é que atrasei em blogar o texto abaixo e estou justificando-me. Acho que ainda há algo de outono neste inverno e isso me dá a deixa... pois,

"Penso as chuvas de outono como aquelas últimas águas que ficaram atrasadas para um encontro com suas parceiras em outras terras do mundo. São irmãs, primas, sobrinhas e filhas nascidas daquelas chuvas grandes, adultas, que passaram por aqui entre novembro e fevereiro. Essas mães das chuvas de março e abril, começaram densas e cálidas, nas festas de fim de ano, apresentando-se familiares em dezembro e fazendo carnaval no início de março. Seu humor variava extraordinariamente; ia do complacente à fúria em poucos minutos, deixando confusa a platéia - por acaso eu e Vania, mas que bem poderia ser um sabiá, uma gralha ou um cervo; as saúvas, os cães ou as siriemas; ou ainda vacas, urubus e tizius. Agora a calma das manhãs e tardes outonais são menos sistematicamente interrompidas pelas chuvas. O sol fulgurando no céu azulado é esfriado por uma brisa seca que facilmente se transforma em vento cortante - mais pelo frio do que pela velocidade.  
Tentando não assustar o chen-chen que pousou na cumeeira da casa, interrompo a leitura e vou buscar descanso para os olhos na paisagem ao longe. A tarde chega e ainda posso ver casinhas banhadas pelas últimas luzes solares, encravadas em vãos de vales ao longo do Rio do Cervo. Não posso controlar a sensação de que estou morando em um ninho da mãe-terra, tal qual qualquer outro ser vivo no dorso desta serra. Um sentimento inominável corre por dentro. Solenidade, sacralidade, medo mítico, amor filial?
Bom, meus olhos pesam e começo a desejar o conforto do sono. Daqui em diante fica por conta dos lobos, corujas, curiangos, morcegos e grilos vigiarem para que tudo aconteça como ontem e o sol possa ser ajudado em seu levante preguiçoso daqui a horas. Eu já fiz minha parte". (Escrito em 2003)