Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

sábado, 8 de janeiro de 2011

domingo, 2 de janeiro de 2011

Sobre chuva, pontes e corridas a pé !

Tenho falado de chuva por aqui, algumas vezes este ano, de modo repetitivo até. Mas justifico dizendo que desde criança, ou melhor, para não exagerar, desde menino, isto é, ao redor de oito anos, curto uma paixão desmedida por estes úmidos pontos que enfeitam o mundo. Já corri riscos consideráveis na chuva, como, por exemplo, aos vinte e seis anos, quando caí num bueiro, cujas águas sujas e enfurecidas teimavam em me sugar para as profundezas do chão, o que consegui evitar com o custo de muita pele rasgada nas pernas, peitos e braços. Estava sozinho, fazendo minha corrida de toda tarde, lá pelos lados da Penha, Zona Leste de São Paulo. Tudo porque queria fazer meu treino para a São Silvestre na subida da Rua Gabriela Mistral, que tinha a inclinação da Consolação e quase seu tamanho. Naquela época a gente subia, já no final da corrida, a Consolação e não a Brigadeiro, como se consagrou atualmente. Saudosismo meu, mas gostava mais; achava mais glamurosa.
        Bem, como já se sabe, se estou vivo aqui, acabei saindo da boca de lobo pelas próprias forças. Mas não aprendi nada com o acidente. Continuei correndo na chuva como se nada tivesse acontecido. Por fim, jamais passei outro apuro como aquele. Fora as bolhas d'água nos pés numa maratona no Rio, embaixo de chuva. Não sei por que, mas o atrito de sapatos de corrida na pele enrugada pela umidade se torna um suplício. Ali aprendi a passar vaselina nos pés e dedos e a andar com uma pequena porção num plástico que guardava amarrado à cintura. Nunca precisei parar para besuntar de novo os pés, mas jamais me arrisquei a passar pelo flagelo do Rio, mantendo comigo a pequena porção daquele líquido pastoso e salvador.
       Bem, agora corro nas curvas maravilhosas da Serra do Cervo e, creio, acidentes como tais, ficam minimizados. A grande quantidade de água que despenca do firmamento já encharcou a terra e estamos nos aproximando de seu pico máximo, onde o Rio do Cervo poderá, como em fins de 1999 e começo de 2000, avançar sobre sua calha e até mesmo por sobre a ponte do Cervo. Naquele verão ficamos isolados por dias, com sua ponte interditada por abalos nas pernas. Neste verão de 2010 estamos fazendo compras sempre pensando que poderemos ficar presos do lado de cá do rio. Na verdade, acho isso romântico e nem me passa pela cabeça prescindir dessa fantasia na vida que levo por aqui. No entanto, talvez pela idade, minha paixão pela chuva ficou mais contemplativa; já não saio tanto por aí, correndo embaixo dela, como se estivesse num rito iniciático.
       Nas vezes em que passar da contemplação para um corpo a corpo com ela, prestarei atenção redobrada para não ser pego por uma tromba d'água lá no vale e encerrar a carreira de pedestrianista apaixonado por correr na chuva. Pretendo correr muita serra acima e abaixo antes de sucumbir a ela... ou à chuva que rola nela! Neste corpo a corpo, quando ela está zangada, sabe deus por quê, quase sempre levamos a pior!