Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Luzes de minha infância, papai noel e pirilampos!

Sou daqueles para quem árvores de natal jamais significaram mais que desperdício. Não me orgulho disso, pois parece que os que se dedicam a essa atividade pueril são mais felizes do que eu! É uma felicidade sem consistência, quase idiota, mas que coisa tocante! Olhinhos de adultos e olhões de crianças fitando fascinadas aquelas árvores piscando... e piscando... e piscando... E aquelas avós, e avôs, e pais, e mães dizendo: “Qual o problema de uma fantasiasinha assim inocente; quem não acreditou nisso um dia; porque fazer as crianças enfrentarem a dura realidade sem papais-noéis, e fadas, e gnomos antes do tempo; depois, como vão se encantar com a vida etc etc?” E eu, esperando que minha mãe não me desminta, afirmo que jamais acreditei no noel. E tenho quase certeza de que sou bem perto de normal! Bem, em certa idade, que não posso precisar, talvez tenha ficado um pouco triunfante, estranhado e frustrado, quando puxei a barba do noel e havia o rosto de minha mãe por trás dela. Mas e daí? Pode ser a prova de que nunca engoli aquela história de “ho-ho-ho” meio desafinado! Por via das dúvidas não direi que postei esta semana! Vai que ela tem a prova irrefutável de que algum dia levei a sério essa bobagem adulta! Mas porque falava disso mesmo...? Ah! Lembrei!
Dias atrás falei que esperava os pirilampos voltarem e agora lá estão eles! Passeiam pela serra escura, acendendo e apagando suas luzinhas, tal como pequenas lâmpadas numa árvore de natal gigante, mas com o dom suplementar de irem e virem, incansavelmente, por toda a noite, cessando com o anunciar do dia. Alguns vagalumes mais afoitos, num esforço inominável, acendem aqui perto, atravessam as copas dos pinheiros e fenecem depois do angico e da árvore de azeitona-do-Ceilão. Imagino o gozo de poder fazer luz própria, uma proeza que religiosos daqui e de acolá sonham: iluminar-se, tornar-se luz. Um dia, na Índia, em Kajuraho, ouvi um religioso dizendo: “I am the sea, I am the sun”. E repetia essa ladainha mântrica por horas. Mas, coitado, por mais que se esforçasse e fosse honesto nos propósitos, não brilhava nem a metade de um vagalume!
Vagando com seus lumes, pequenas lamparinas riscando o quadro negro da noite, escrevem a vida nos morros; daqui alguns dias somem e vão dormitar em alguns nichos do mundo, criar suas crias, e estas tomarão seu lugares e outros olhos olharão seus piscares, pois, tal como vagalumes, o lume de meus olhos não estarão aqui para mirá-los.

Vagalumes!

Ontem choveu daquela maneira densa, calma e pesada, que as chuvas de primavera e verão às vezes podem chover. Ao passar pela entrada do sítio o cheiro de grama molhada me encheu os pulmões e fiquei ali, por alguns segundos, encharcado, pensando nas milhares de pequenas tocas de bichinhos, insetos e outros maiores, tenteando a chuva e esperando a estiagem para fazer suas refeições. Pensei que aquela noite, a tomar pelas noites de sábado e domingo, com os primeiros pirilampos a foguetearem pela serra, que seria a festa que já presenciara em outras primaveras. Mas, com a chuva, acho que adiaram o espetáculo para outro dia mais propício. Aguardarei ansioso... Espero que coincida com minha volta de São Paulo! (escrito em 28/09).