Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A matilha aumentou!

Essa é a Meg! A menor das moradoras da Serra do Cervo, adotada há poucos dias; não tem cinco quilos. Foi abandonada cerrada em um saco de aniagem com quase duas centenas de carrapatos, à beira da rodovia que vai para Machado. Ficou dois ou três dias esperando o dono e acabou, para diminuir seu sofrimento, fazendo uma toca no capim, onde foi encontrada por Vania que havia ido a Alfenas para uma audiência e já havia visto dois dias atrás. Seu olhar tristinho nada tem a ver com sua nova vida. Trata-se de uma vermifugação que ela certamente não estava habituada! Tem muito bom humor, com exceção na presença da Kelly, que sem mais nem por quê a irrita profundamente. Ciúmes, claro! Afinal a Kelly era a lulú da casa, até sua chegada. Adora caçar ratos ao redor do pomar e da casa e não abre mão da companhia de humanos, apesar da decepção que lhe impuseram deixando-a ao relento.
Atualmente acredita piamente que é a dona do pedaço, a menina do bloco, eixo no qual gira o mundo, enfim, a própria majestade da floresta! Mas, neste seu humor de soberana sabemos ver, possivelmente, uma reação ao abandono, pelo menos é o que dizem os psicólogos caninos. De nossa parte parece que ela nem passou pelo que eventualmente passou. Nem podemos imagina-la noutro lugar...!
E esta é Bianca! Sua história é a mais sofrida de todos que por aqui estão. Pelo menos do nosso ponto de vista, uma vez que não sabemos que critério usar para comparar! Então, arriscamos nossos critérios subjetivos, ou seja, excluindo o dela. Ela bem poderia confirmar nossas suspeitas, não fosse a dificuldade de comunicação entre cão e gente. Encontramo-la às beiras do Ribeirão das Mortes, grávida e doente, aparecendo costelas aos montes. Quando a trouxemos para cá, habilmente fugiu por uma ranhura da cerca, e ficou desaparecida por 16 dias. Reapareceu na casa da Léia, vizinha a quase quilômetro de nossa casa, a meio caminho abaixo, perto do sopé da serra na beira da estrada. O que vimos, ao corrermos até lá, foi de cortar coração; ela havia perdido seus filhotes que tentou cuidar no meio da torrencial chuva que durou quinze dias e inundou toda a várzea em que se instalou. Fracassou. Estava em pele e osso, há poucas horas de morrer, sem forças sequer para reagir a alguns gatos que a encurralaram na porta da casa. Cheirava indescritivelmente, atacada por trinta e cinco bernes, uma bicheira gigantesca na vagina e uma menor num dos olhos. Foram quinze dias de internação, com todos os itens que podiam leva-la à morte. 
Hoje, ainda em recuperação, os sinais de sua fuga já se desvanecem numa pelagem nova, brilhante e forte. Contudo, os efeitos psicológicos de meses de maus tratos dos antigos donos, particularmente de um homem, são dominantes no seu comportamento; comigo só balança o rabo quando numa distância segura. Com Vania chega se deixar pegar no colo e fotografar. Esperamos que um dia ela possa ter o sentimento de que aqui é seu lugar; que confie, pois confiar é quase tudo numa matilha, ainda que essa matilha misture humanos com cachorros! E humanos, frequentemente, traem a confiança de seus pares; o que dirá desses bichos desprovidos de malícia!