Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Vó Pina e o assento cinza (azul?)!

Vou tentar reproduzir a Vó Pina: "É esquisito, mas nos vagões do metrô, e desconfio que nos ônibus também, existem assentos com cor cinza ou azul. Dizem que é para os velhinhos sentarem! É o fim do mundo! Como sempre, a discriminação - velhinhos tem seu lugar destinado, e não espalhados pelo mundo que é aonde vivem. Mais absurdo ainda é ouvir uma voz eletrônica dizendo: 'Obrigado por respeitar o assento preferencial!' Imagine que eu tenho alguém agradecendo por mim a alguém que me "cedeu" seu lugar nos bancos! E isso já se naturalizou. Ninguém precisa ceder lugar se os bancos diferenciados já estão com sua cota de cambitos. Aí, aqueles jovenzinhos com MP-alguma-coisa nas orelhas, ou fascinado por um celular raio colorido-não-sei-o-quê, nem olham prá gente. Mas não serei parcial... todos, de qualquer idade, fazem cara de paisagem e continuam em seus, como sempre digo, 'imundos íntimos'. Problema do velhinho que não chegou antes e sentou no seu lugar! Este é mais um item no qual regredimos nas últimas décadas: cadê aquele sentimento bom de fazer um carinho, ou no mínimo um pouco de piedade pelo peso do fardo de carregar um corpo septuagenário e não raro octogenário. Cuidado urbanos! Os cidadãos de São Paulo envelhecem drasticamente e loguinho será você reclamando! Aproveito para anunciar que vou criar um movimento contra os bancos preferenciais. De hoje em diante sou monotônica. Só vejo uma cor: a cor da inclusão, da urbe. E isso é só a ponta do iceberg. Levarei um susto monumental (eu gosto de 'monumental'), quando um jovem me ceder seu banco apenas porque é urbano! Mas farei cara de quem viu a coisa mais natural do mundo e só farei um gesto delicado de cabeça, agradecendo. Afinal, é sempre com esforço que fazemos algum carinho àqueles que não frequentam nossa sala e cozinha, não é, bisneto?"
E eu: "É sim, Vó Pina!" Pensando se entro na campanha dela para abolir-se os indefectíveis assentos azuis (cinzas?). Aí tive uma iluminação.., uma fulguração.., como dizia Sartre. Vamos pintar todos os assentos de azul (cinza?)!!!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Casacos e andrajos!

Hoje amanheceu garoando e o frio tomou conta devagarinho. No metrô a densidade humana por metro quadrado havia aumentado devido aos agasalhos acolchoados e malhas grossas sobre camisas e camisetas. Gorros, bonés e cachecóis coloridos fizeram a festa dos olhares, assim como o andar característico dos dias gelados voltou - um certo encurvamento do último terço da espinha, a cabeça meio pendida para os pés, o olhar esbarrando no cenho e o pescoço afundado nas roupas. É um modo bastante esclarecedor de como vai o frio - quanto mais curvado para frente, quanto mais um ombro chega perto do outro na forma de um arco, sufocando as carnes do peito, mais frio está. As mãos enterradas nos bolsos, e vale qualquer bolso - das calças, do casaco, ou mesmo em um ninho improvisado com as mãos enfiadas nas dobras da malha. Elas ficam lá tentando angariar calor da pele, feito pássaros encorujados se esfregando para sobreviver ao sopro do vento. A garoa molha uma cabeça incauta, uma mão que insiste em manter-se ao relento; mas umedece mesmo os ossos de uns homens e mulheres em andrajos, deitados em trapos, embaixo da marquise do bradesco, junto a dois cães tiritando...

terça-feira, 14 de julho de 2009

As costas da serpente e o ventre do ônibus!


Manhã gelada na serra! Daqui de cima posso ver a calha do rio do Cervo sob uma massa compacta de vapor, agora que o Sol já aquece a geada. A estrada que vai a Espírito Santo do Dourado, como uma cobra grande e cinza, com uma faixa amarela no dorso, se esconde nessa brancura de doer os olhos, como se fosse seu ninho de algodão. O que fará lá embaixo, cinco quilômetros depois, no bairro do Cervo e suas poucas casas aglomeradas em torno do bar do Marquinho e da igrejinha? Os moradores, nesse momento envoltos na cerração, bem no meio do ninho dela. Dez para a sete, o dia começando, e o ônibus já desceu a encosta, como um bichinho marrom e branco, deslizando pelas costas da serpente, levando trabalhadores cujos empregos se distribuem pela cidade. Depois vai desovando gente desde o São Geraldo até o ponto final. Mais tarde, entre onze e quarenta e meio dia, serei eu um dos últimos a ser vertido do ventre do ônibus no átrio da rodoviária; lá comprarei a passagem a São Paulo e no meio da tarde estarei sentado em minha poltrona permitindo que a primeira história de vida verta do ventre de alguém, com suas contrações e relaxamentos, pedindo que acolha seus restos e com eles possamos vislumbrar uma nova vida...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Inverno úmido e quente! Que surpresa!



Sábado, comecei o dia mais tarde, aqueci o corpo, me alonguei e ergui pesos para começar a correr... Para ir até a estrada lá embaixo, prefiro tomar uma atalho por dentro da propriedade, rente a cerca que faz divisa com “Seu” Antônio, nosso vizinho ao sul, cuja casa se pode ver lá de cima, por entre a cerca viva de Sansão-do-Campo que nos separa e que plantamos para evitar o uso de mourões e cercas – no projeto de simplicidade, sustentabilidade e ecologia. Isso evitará por três décadas, ou mais, o uso de arames, madeira e mão de obra. É uma cerca eficientíssima contra a força do gado. Enquanto vou descendo presto bastante atenção no meu pequeno talhão de café plantado na encosta da serra, ao lado de outro talhão de banana prata. O café vai bem, mas poderia ir melhor não fosse o péssimo clima para colheita e secagem; como dizem os vizinhos, o clima ficou louco; estamos no primeiro terço de julho e a seca não aconteceu. Assim, também, o feijão plantado no meio do cafezal que não pode ser colhido e secado. São aquelas ironias da vida campesina. As chuvas não deixam vir a seca e isso é muito bom para uma série gigantesca de plantas e para o gado que fica no pasto com capim verde por mais tempo, gerando peso e o peso dando lucro ao criador. Enquanto isso as maritacas, os jacus e outros animais que apreciam o café maduro, quando está no ponto de rubi, ou como é mais comum dizer, café em ponto de cereja, têm mais tempo para mastigar seus grãos. Os prejuízos são incalculáveis! Com estes pensamentos corri o percurso costumeiro, com Kely Lulu Star, e voltamos pelo meio da cafezal para inspecionar as palmeiras reais que plantei para proteger o café do vento forte e, de sobra, produzir nosso próprio palmito. O sucesso, pelo menos quanto ao vento foi total! Hoje já estão com três a cinco metros de altura! Quanto a colher o palmito foi um fracasso; ficamos com dó de cortar as palmeiras e lá ficarão. Prometemos para nós mesmos que elas servirão de mães para dar sementes que serão plantadas em local apropriado e aí, então, colheremos seu palmito. Aproveitei o resto da manhã para aparar grama e capim à volta da casa, entre trinta e quarenta metros de raio. Almoçamos o melhor macarrão estilo Vania e depois leitura e escrita até acharmos a hora certa para sonhar.

Domingo, depois da corrida, plantamos dois pés de jabuticabas, colhi uma jaca (nas fotos), um cacho de banana ouro, terminei a arrumação hidráulica da horta, transpus cavalinhas de um lugar inóspito para a horta; Vania podou uma buganvile que nos impedia de passar em direção ao pomar, carpiu o entorno das roseiras, cuidou de dar formato aos canteiros. Depois afiei as foices, enxadas e facões que serão usados na roçada da semana. Pus a arder a lenha do fogão e com a trempe quente coloquei a assar cinco jogos de coxa e sobrecoxa de frango. Trata-se de colocar algumas peças de tijolo que criam um vão de um palmo acima da trempe aquecida pelas achas. É uma maneira improvisada de assar sem ser direto no calor da brasa; o calor, deste modo, se distribui uniformemente e a carne termina de assar simultaneamente. Fazemos isso um ou dois finais de semana por mês, comendo um jogo cada um no almoço de sábado ou domingo e depois guardamos na geladeira os outros. Nos dois ou três dias seguintes aquecemos um jogo cada e só cuidamos do acompanhamento a base de caldos de legumes, saladas com itens diversos – todos da horta - e arroz integral, sementes de linhaça, especiarias etc. Não devo esquecer os dois coffee-breaks que se tornaram a especialidade da casa, ou de Vania, o que dá na mesmo: no meio da manhã ela prepara um creme a base de suco de laranja pera, bahia, nativa ou tipo pingo de mel, com duas ameixas, linhaça; o segundo, no meio da tarde, com suco de laranjas de vários sabores com mexericas variadas e algo para comer. Ao anoitecer, quase sempre, faço um café com queijos, goiabada cascão e biscoitos. Mais tarde comemos um mini-lanche com chás aromáticos. De fato só fazemos uma refeição, o almoço, ao estilo mediterrâneo, quase sempre acompanhado de uma pequenina dose de bebida alcoólica de boa procedência, vinho preferencialmente. Mas pode ser cachaça, conhaque etc.Bem, terminamos o dia lendo e escrevendo...




Hoje de manhã, sob sol frio e céu de azul claro (azul-bebê?), temperatura ainda aos cinco graus (depois de geada forte em certas partes da serra), fui correr com Kelly Lulu. Nariz ardendo, mãos e pés duros de frio, subi e desci a serra lentamente, para não forçar os pulmões. Depois me adapatei à temperatura - o corpo aqueceu, as luvas foram dispensadas e os pés relaxaram. Ao voltar, mais trabalho braçal; com a roçadeira aparei toda agrama da entrada da propriedade junto a estrada que dá para o Catiguá enquanto Vania rastelava e juntava tudo na beira da estrada. Almocei e aqui estou eu na lan, depois de ir ao museu. V. não pode vir comigo... Daqui vou à companhia de ballet do Luiz Henrique (veja postagem sobre o Teatro). Também farei as compras semanais... Antes de ir para casa passarei na Universidade para assuntos da pesquisa. É isso!