Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

domingo, 18 de abril de 2010

Maritacas, sabiás, bugios...

...borboletas, mamangavas e coleirinhas; são os personagens das "aventuras" de ontem e hoje. As maritacas colocam Ovídio José nosso vizinho de serra em estado de loucura: comeram parte considerável de seu milharal, que por acaso está plantado em nossas terras. Elas passam por sobre nossas cabeças aos gritos, como um bando que promove um arrastão. Se abstraio sua voracidade e penso só na algazarra destes pássaros verde-esmeralda, consigo amá-los como qualquer outro bicho da serra. O difícil é abstrair o sofrimento do Zé!
Os sabiás voltaram de sua viagem sabe lá Zeus por que paragens. O fato é que chegaram também famélicos e glutões; estamos acolhendo-os com muita banana e abacate. Afinal são quatro ou cinco e não significam muita perda; talvez seja uma injustiça reclamarmos das maritacas e acoitarmos os sabiás. Vai entender a mente humana!
Os bugios resolveram dar um espetáculo operístico neste domingo; infelizmente nenhum deles faz segunda voz ou um contraponto. Todo mundo ruge (bugios rugem?) em uníssono formando um vozerio que se pode ouvir até lá na ponte do Cervo, três quilômetros abaixo.
As borboletas, encantadas com o Chapéu Mexicano, farfalham suas asas coloridas e sugam ávidas o mel e raspam o pólen com todo o cuidado. Estão preparando-se para botar seus ovos por aí e depois gerarão as lagartas coloridas que empupadas virarão novas borboletas. Me maravilha saber que os filhos jamais conhecerão os pais. Sem Édipo, sem aprendizado, sem psicologia e elas saberão exatamente o que fazer para sorver o mel vital, fazer acasalamento e botar seus ovos.
As mamangavas a cada ano que passa dobram de quantidade; um espécie de abelha gigante, algumas negras furta-cor, outras rajadas de amarelo com preto, metem medo à primeira vista, mas se nos achegamos e deixamos que elas se acostumem conosco, as sabemos delicadas e tímidas, porém trabalhadoras incansáveis como manda o figurino dos bichinhos que tem crias para alimentar. Onde elas vivem pode-se conceder o selo de equilíbrio ambiental, pois são frágeis, apesar do tamanho e aspecto temerário. Não sobrevivem a pastos ou terras degradadas por cultivos irresponsáveis.
Finalmente, Vania tomava sol de manhã, sem perceber, embaixo de um ninhozinho de coleirinhas. Ficamos muito tempo observando a trabalheira do casal para nutrir seus filhotes ainda sem penas. Os dias vão esfriar e elas estão apressadas em fazer crescer suas crias. Dentro de alguns dias suas capinhas de penas as protegerão dos frios ventos do norte à noite e do sul durante o dia.
A propósito os canarinhos já abandonaram a casinha que construímos para eles e foram lá para as terras mais quentes dos pequenos vales. Aguardamos pacienciosos sua volta na primavera...