Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Surfando uma onda de ombros!

Fora do metrô e já me deparo com uma parede humana! Centenas de pessoas apinhadas antes das escadas no Jabaquara, descendo lentamente, como se estivessem acompanhando um morto. Isso me lembra as procissões de féretros em Apucarana, eu ainda menino, olhando de soslaio, de canto de olho, o caixão de algum vizinho que desaparecera, sem mais o quê. Podia me aproximar o suficiente para ver algum canto de rosto macerado, mortalmente pálido... E aquele povo andando devagar atrás do morto... E isso me lembra a vó Pina bem acomodada em seu caixão no centro da sala de tia Isaura, e eu mal acomodado na existência, achando que depois não viria mais nada de bom! E não é que veio! E isso me lembra... esquece! Volto ao metrô.

Olho para frente e vejo uma onda de massas arredondadas, formando ombros, encimadas por globos cranianos com uma profusão de cabelos alinhados, desalinhados, crespos, lisos, ondulados. Aquela movimentação para-lá-para-cá, compassada, de acordo com um passo ladeando para a esquerda, de acordo com outro para direita, formando uma onda, mais ou menos organizada. Do alto dos meus cento e sessenta e três centímetros, fora sapatos, posso ver umas caixas cranianas privilegiadas que flutuam a cerca de trinta centímetros da massa, surfando uma onda de cabeças e ombros que deslizam para lá, deslizam para cá, todo mundo tentando ver o que acontece. Algumas bem humoradas cabeças sacam seus celulares e brotam braços que se erguem acima das cabeças flutuantes, até mesmo daqueles que surfam nossas cabeças rentes a seus sovacos, e clicam. Talvez esperem mostrar para sobrinhos, filhos, netos como foi o dia. Um certo clicador me pareceu tentar uma foto artística; outro, uma foto para o patrão!

Uma voz masculina, compassada, clara, timbre audível, estilhaça o relativo silêncio: O SERVIÇO ENTRE LIBERDADE E SÉ FOI NORMALIZADO! AGRADECEMOS SUA COMPREENSÃO! Ninguém parecia ter ouvido! Nenhuma reação. Apenas um sujeito, destes cujo mau-humor é sempre uma lufada de ar fresco: OBRIGADO SENHOR! FICO MUITO TOCADO POR SUA CONSIDERAÇÃO! (olhando o relógio e meneando a cabeça).

A onda continua, as cabeças bem localizadas surfando as nossas. De repente uma cabeça que repousa em uns ombros de metro e meio tenta furar a onda! Um daqueles ombros gigantes, com cabeças grandes, volta-se lentamente, fixa os olhos castanhos nos olhos do pequeno ser lá embaixo, manda-lhe um raio de fúria contida e esfacela as pretensões do baixinho. Tudo volta a normalidade. A onda continuou sem surpresas e passou pelas catracas deslizando para baixo da terra...

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