Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

domingo, 10 de outubro de 2010

Da chuva e suas vicissitudes!

    Hoje de manhã, depois de ralarmos, literalmente, dedos, braços, pernas etc. na limpeza de um bueiro que atravessa a estrada que dá para a entrada do sítio, a exaustão nos solapou. Descansamos enquanto almoçávamos e retomamos de onde paramos. Foi um dia inteiro de um tal de empurra-e-puxa terra, uma vez que o bueiro tem apenas quarenta centímetros de diâmetro, impedindo-nos de entrar nele. As ferramentas não especializadas nos exigiram o dobro do esforço que seria necessário em condições, digamos, profissionais. Enxada pequena, uma mangueira de água, um cano rijo e uma paciência de Jó. E no nosso caso sem as benesses divina, pois não era a alma que estava em jogo.
    Acabamos deixando o serviço por ser terminado noutro dia. E também com a esperança de que ao tiramos por volta de setenta por cento do entulho, a enxurrada que vier pela estrada, complete nosso serviço. Foi o que deu para fazer. Mas, todos sabemos que a natureza não é nossa funcionária; nem é assim tão obediente. É bem capaz de ela fazer o que quiser com nossa estrada. Ninguém mandou fazer ali uma via e atrapalhar a vazão da água. E querer que a natureza trabalhe a nosso favor, a faz rir. Muita água virá até maio e esse bueiro será solicitado em extremo. Precisaremos ficar atentos para que a chuva não leve pelo bueiro todo o cascalho que foi colocado no dorso da estrada para que o carro possa rolar por ela sem nos deixar numa das curvas embarreadas. Valeu o esforço. A vazão da água possivelmente será boa o suficiente, até que encontremos uma solução melhor para sua limpeza.
    Agora no escurecer do dia, depois de espalhar o cascalho coletado, quando lavávamos as ferramentas, vimos uma longa fila de jipeiros subindo pela estrada que vai ao Catiguá e depois Silvianópolis, olhando embevecidos a paisagem. Fiquei pensando que eles se divertiam e quem sabe até fantasiassem com a vida que levamos aqui na Serra do Cervo. Pois não é que eu ando por aquelas estradas, a pé, ladeado pelos nossos pequenos cães, olhando a espinha da cadeia de serras que se espalham pelo horizonte e não estou a passeio! Eu vivo aqui, pensei, tomado por um sentimento gostoso de viver junto a terra, que vem desde o escotismo lá na pequena serra que forma a cidade de Apucarana (não por acaso quer dizer "serra anã"). Depois, me recuperei, e achei que eles não gostariam de limpar tulhas e bueiros de estrada. Acredito que a eles basta a fantasia de nos imaginar aqui na orla da mata, com enxada na mão e barro até nas orelhas. Acabei me conformando que eles têm o que conseguem fazer consigo mesmos. Eu também. É brega dizer, mas digo assim mesmo: "Cada macaco no seu galho"! Não tenho certeza de que gostaria de andar de jipe por aí, sem parar e morar num rincão qualquer das serras que visitarão. Acabaria, é quase certo, trocando o passeio por uma vida rural.
    Falava de exaustão! Agora preciso tomar um banho e dormir. Amanhã trabalho logo cedo em meu consultório e de camisa de manga comprida para esconder as raias de sangue daquela ralação que aludi acima. Dentro de dez dias estarão invisíveis... se é que não acabe ralando tudo de novo! Afinal, este tipo de trabalho não tem fim, lembram?
    E já ia esquecendo! Amanhã à tarde começarei uma segunda horta para descansar a primeira. Significa tirar touceiras de braquiária no enxadão, cavoucar o chão... destorroar... capinar... por Thor, deus do trovão! Será uma ralação só!   

Um comentário:

Sabor da Mantiqueira: doces orgânicos especiais disse...

Entendo perfeitamente o que diz Levi! Também somos metidos à besta, que decidimos vir morar na roça não a passeio, mas para limpar curral, lutar com as brachiárias teimosas e fazer mil outras coisas que nos deixam exaustos e felizes!Como disse, cada macaco no seu galho...
Grande abraço e boa sorte! Os arranhões se curam no inverno, quando a naureza nos deixa descansar um pouco mais...
Camila