Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A inocência da chuva e os meninos ciganos!

Outro dia falei sobre a enchente de 1999/2000 momento em que o Cervo excedeu seu leito e quis irrigar sua várzea, como nos bons velhos tempos onde nós, os homens, nada havíamos feito contra sua natureza. Naquele fim de ano/começo de ano, ficamos isolados por alguns dias até que consertassem a Ponte do Cervo e pudéssemos ir até Pouso Alegre, ou mesmo, como no meu caso, voltar a São Paulo, a trabalho.
Pois as coisas estão se complicando por aqui! Hoje, quando voltávamos, Vania e eu, para casa, demos uma espiadinha lá para baixo da ponte. Da janela do carro vimos um rio até bem calmo, mas para nossa apreensão, cheio até as braquiárias que enfeiam suas margens. Ele está ao nível do chão de sua calha e isso num dia que choveu pouco, no entanto, com promessa de chuva na sua cabeceira até domingo que vem - ou seja, mais três dias! Amanhã, como plano de evacuação, vou comprar suprimentos para suportar um eventual isolamento!
Em Pouso Alegre bairros inteiros, tal como o São Geraldo, lá no Aterrado, estão alagados, sujos de barro, entulhados de lixo trazido das casas das regiões mais altas, somados ao lixo dos próprios moradores. No meio dessa insanidade do clima, chegando de ônibus, vi uma cena singela, descontado o trágico: dois meninos ciganos mergulham nas águas paradas do lado da Perimetral, enquanto um homem lavava suas roupas sobre um pedaço de cimento arrastado pela chuva, a poucos metros de suas barracas...
O que faz com que sobrevivamos a tamanhas desditas da sorte, como diria Vó Pina? Com que serenidade vamos entrando no rolo compressor da existência! Às vezes com a mesma inocência daqueles meninos mergulhando nas águas excedentes de uma noite trágica...
Mas, a inocência não salva; no máximo nos desculpa. A inocência é tocante; por isso nosso sofrimento é maior ao vê-la derreter na chuva sem trégua.

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