Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

domingo, 11 de março de 2012

Gigi e Dino, mais duas histórias de pássaros!


Dezessete anos depois de incluirmos em nossas vidas as preocupações usuais com um sítio, ou, como se diz por aqui, a roça, nossas histórias com a turma alada já se tornou uma lista infindável. Assim, Gigi, uma pomba e Dino uma maritaca, são apenas mais dois exemplos de relações assimétricas, quero dizer, nós cuidamos e eles são cuidados - simples assim. O que primeiro chama a atenção é o desamparo inicial desses pequenos seres que nada deve ao bebê humano. Ambos só podem existir na máxima dependência, alimentados com diligência, por uma mãe (às vezes por um casal que se forma para esse fim) que deposita ou oferece alimento fomentador de energia com a qual um industria penas à espera do florescimento dos instintos, o outro cria uma mente, um corpo expressivo e outros prodígios da espécie humana. 
O primeiro fará do voo talvez sua característica fundamental, o segundo terá no desejo um voo com poucas penas e, com isso, voa feio, inseguro e sem direção precisa. O primeiro funda-se em si mesmo, sem diferença entre o que necessita e o que obtém. O segundo funda-se no outro e deseja o que não pode obter.
A Gigi, uma esbelta pomba citadina - na foto olhando com muita curiosidade o que se passa fora dos poucos metros do consultório, sua moradia provisória - tornou-se uma presença inolvidável, com seus arrulhos e sisudez. Suas penas ainda estão se fortalecendo, mas já arrisca um voo circular que vai até a cabeça de algum transeunte e de volta à janela segura, onde Vania a espera com papinhas e outros acepipes. À noite dorme sobre um pequeno baú de madeira que escolheu entre muitos outros lugares para pouso. De vez em quando, pousa sobre meus ombros para descansar de seu curto passeio pelas redondezas, enquanto digito qualquer coisa.
Já nos preocupa o que será de uma pombinha que não tem a vivência daquelas criadas por mães nos telhados das casas e iniciadas na malícia de fugir dos carros, gatos e cachorros - além de uns meninos e adultos que atiram-lhes o que tem à mão para causar-lhes dor. Preocupações de pais, embora postiços. Entre muitas aflições, questionamos se a soltaremos no horto, na cidade, ou no campo. No campo encontrará as majestosas pombas do ar, que não terão nenhum prurido em a expulsar das redondezas (especialmente se a Gigi for "o" Gigi!). No horto e na cidade parece que ela vai enfrentar relações com gente, que pode não achar nenhuma graça num pássaro descendo do céu sobre sua cabeça... além disso,  não teme seus predadores!
Anteontem um vizinho nos trouxe o Dino um filhote de maritaca, que tudo indica deverá nos dar as mesmas dores de cabeça. Vania decidiu que é macho, porque, como diz ela, são todos carentes, folgados e exigentes. Creio que ela tem razão sobre os machos; e o Dino só pode ser um deles! Note-se que a pomba Gigi chegou até nós depois de ter sido abandonada numa caixa com outro filhote já morto, numa tarde de sábado, anunciando uma tempestade. Naquele momento estava nas condições do Dino no filme acima; sem penas, com o bico mal formado e com uma fome de doer.
Ps.: A propósito da última blogagem "Ninho Vazio", agora nós estamos passando pela esquisita sensação de esperar a Gigi, que não volta para casa faz vinte e quatro horas. Dizem os vizinhos que a viram com outros três pombos em cima de nosso prédio. Conservamos o pequeno baú que lhe serviu de poleiro lá no lugar que escolheu e deixamos a janela aberta, na eventualidade de querer nos visitar e comer queijos, que tanto adora. 

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