Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

As mulheres, as minas e as caixas d'água!

As águas que usamos para beber e no regamento geral da horta e flores, vêm de dois olhos d'água com mais ou menos 1100 metros de altitude. Nascem por debaixo de rochas gigantescas acima de nossa morada e descem por um vão na costa da serra como se fosse as curvas para dentro num corpo feminino. Aliás são vãos que formam regos delicados ladeados por colinas, como aquelas da mulher. Por isso acredito sempre estar me relacionando com o feminino quando arremedo por aqueles fundos buscando reunir a água que nos alimentará a todos. Os pequenos veios líquidos, delicados, são facilmente captados e, na sua docilidade, se deixam dirigir serra abaixo até caixas estrategicamente colocadas para distribuição pelo terreno. Mas, uma vez ali reunidos alguns milhares de litros de água, a realidade muda drasticamente. A domesticação do fluido se torna problemática, exigindo horas de engenharia aplicando um conhecimento puramente intuitivo, experimental. Arrocho algumas abraçadeiras de metal aqui e ali tentando que o líquido se mantenha onde quero que fique; aqueço as mangueiras de plástico em água quente para que, ao expandir, aceitem que se sejam empurradas com facilidade por sobre emendas que darão em aspersores sobre as plantas. Quando resfriam, as mangueiras se apertam, intimamente, e eu as uno com mais uma abraçadeira para que o serviço dure por alguns anos. Quando as caixas d'água enchem, meu orgulho de ter domado as centenas de libras de pressão que elas fazem contra o encanamento água vai por água abaixo. Lá está um pingo líquido aqui, ali e acolá, se imiscuindo por entre as abraçadeiras e mangueiras fortemente arrochadas. Limpo as mãos barrentas e enxugo o suor do rosto um pouco frustrado e penso: “Quem mandou se meter com esta mulher, suas dobras e seus fluidos?” Ela está devolvendo em fúria a domesticação impingida àquele dócil filete de água que descia sem esforço ou impedimento, tagarelando pelas pedras e árvores até desaguar no Cervo.

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