Adeus Serra do Cervo!

Você que lê este blog já me viu desistir de escrever nele uma outra vez, mas pelo motivo de não encontrar uma história que valesse a pena. Depois voltei atrás por saudades de falar de terra, de bichos e de meu estado de espírito nas serras. Bem, agora é definitivo! Não voltarei mais a este espaço para descrever minha lida pelas serras do Cervo, simplesmente porque não mais estarei por lá. Se vier a escrever sobre minha longa jornada por cada recanto daquele refúgio o será em outro blog, mas para dizer das saudades, reminiscências e imagens indeléveis desta vivência. Este blog será como uma árvore esquecida na retina do viajante em um trem que dispara pelo campo. Ou como mais uma lápide no grande cemitério da web. Grato àqueles que me brindaram com sua leitura. Antes de fechar de vez este espaço farei uma última blogagem, em respeito aos que me seguem. Manterei, limitadamente, o blog http://levileonel.blogspot.com

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Hoje, nespereiras, amanhã geléias de seus frutos adocicados!

Pouso Alegre: 17:34, segunda. Pois é, não dei sorte com a única lan aberta! Não postei ontem porque estava com problemas que nos impediam de entrar na rede; demoraria muito tempo e decidi postar hoje. Como já havia previsto, neste regime onde não tenho internet na serra as postagens sofrerão certa defasagem... Hoje, amanheceu e permanece um dia cinzento, com temperaturas baixas, cuja sensação térmica é ainda mais baixa por causa de um vento intermitente, cortante. De manhã, bem agasalhados, nos dirigimos, V. na enxada e eu na foice, para nosso pomar de nespereiras. Podamos, limpamos seu entorno e lhe demos o formato de taça, que facilita a entrada de ar e luz na copa. Isso nos renderá, para o verão, frutas naturais e geléias que comeremos no outono que vem. Agora vamos fazer a rotina de cuidados das nossas relações com a cidade: banco, uma visita rápida ao Luiz Henrique e sua escola, onde aprendemos dança de salão; irei ao museu para a continuidade do projeto de pesquisa e ao próprio teatro municipal.

Pouso Alegre: 11:00h, domingo. Passeio pela cidade que está cheia; ao passar pela praça central, ao irmos ao açougue do Roberto pegar ossos para nossos pupilos, nos deparamos com um conhecido movimento de fim de missa na catedral – pessoas aliviadas de seus pecados, de seus compromissos aos olhos da sociedade. Dá para adivinhar seu prazer antecipando almoços familiares e uma tarde em paz. Famílias inteiras – de netos a avós – concernidos, escusados pelo que passaram durante a semana de lida, preparando-se para a próxima, entremeio o alarido das crianças, a dormitação dos adultos e os sonhos dos jovens...

Na última sexta a serra amanheceu de ar limpo e a pouco mais de 4 graus de temperatura; na madrugada chegou a zero! Faz tempo que não sentia por aqui um frio desta ordem em maio. E veja que já estamos aqui há quinze anos, e morando regularmente a seis. No caminho para PA, onde faria consulta de rotina ao dentista, o para-brisa congelou e foi difícil fazê-lo transparente só com a água do limpador. Quando voltei – depois de ir ao conselho de psicologia para apresentar um projeto de cine-clube e plantão psicológico; de visitar o museu para o trabalho sobre o teatro; de tentar resolver (sem sucesso) a recepção de sinal de internet em casa – de longe vi a serra coberta por denso nevoeiro. A temperatura já subira o suficiente e agora seriam horas cobertos por úmido vapor que sobe do bosque. Uma vez em casa, enquanto ia estacionando em frente o Gravetos, barracão onde fica um fogão a lenha, o divisei atravessado por uns poucos raios solares vindos por entre uma moita de eucaliptos, marcados pelo desenho feito na cerração. Foi um espetáculo digno de efeito especial cinematográfico; alias o dia estava para efeitos especiais, o que se comprovou depois com revoadas de maritacas tipo maracanã, os ritos sexuais feitos de voos rasantes e sons roucos dos urubus, que há anos fazem seus ninhos em uma pedra acima de nossa morada, numa das dobras da serra.

Hoje, sábado, arrumamos a tulha, para que sobre espaço para as novas ferramentas que chegaram de Monte Santo, dia 18 passado. Fizemos a faxina geral da casa e colocamos ordem em dezenas de objetos que estavam mais ou menos sem lugar certo. Cansativo, mas extremamente útil, para quem necessita fazer as tarefas diárias no pomar, horta, plantações de subsistência e ainda dar conta da moradia. Quase sem móveis ou objetos supérfluos, é uma casa fácil de cuidar; ainda assim, precisa de uma arrumação mínima...Assistimos duas horas de tevê e fomos, ao final do dia, quase escurecendo, verificar se as saúvas e quenquens estavam atacando marias-sem-vergonhas, roseiras, espirradeiras, jabuticabeiras... E estavam! Deixamos nos buracos de suas entradas um produto granulado que tem a função de criar fungos em sua comida (as folhas sofrem uma oxidação dentro do ninho delas) e isso as desestimulam de procura comida naquela região. Foi o que fizemos...!

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